quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Censo aponta novo perfil das famílias brasileiras



Publicação: 18 de Outubro de 2012 às 00:00
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Rio (AE) - Um novo perfil da família brasileira está desenhado nos dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cresceram as uniões informais, os casais sem filhos e os casamentos inter-raciais. Também há mais separações e divórcios. E, pela primeira vez, o IBGE levantou informações sobre dois tipos de casais: os de mesmo sexo e os que vivem com enteados, além de filhos. Pouco mais de um terço dos brasileiros que vivem algum tipo de união conjugal não formalizou o casamento no civil nem no religioso. A chamada união consensual foi a única que teve crescimento na década 2000-2010, passando de 28,6% para 36,4%. A proporção de pessoas casadas no civil e no religioso caiu de 49,4% para 42,9% na década.

"O casamento informal era mais concentrado na região Norte e entre casais de baixa renda. Agora, está mais disseminado. É comum a decisão de passar por uma experiência antes de contrair matrimônio. Existe também uma questão econômica, já que a união consensual requer menos gastos, não só com a festa, mas com todas as formalidades. Houve uma mudança cultural, iniciada pelos jovens", diz Ana Lúcia Saboia, do IBGE.

Um cenário bem diferente do que viveu a consultora pedagógica Priscila Monteiro, "juntada" com o marido, José Costa, há 22 anos. Naquela época, conta ela, a decisão de não se casar significava uma posição ideológica. "Eram só os considerados alternativos que faziam isso, os mais intelectuais, que eram contra a regra do sistema", diz ela.

Hoje, até dentro da Igreja esse tipo de união tem crescido. Quase quatro em cada dez católicos casados (37,5%) não passaram por qualquer cerimônia institucional. Em 2000, eram 28,7%.

As uniões entre casais de raças diferentes são crescentes no País, mas na última década houve estagnação em relação ao período anterior. Em 1960, 88% dos casais eram formados por pessoas da mesma raça, porcentual que caiu para 80% em 1980. Em 2000, chegou a 70,9%. Em 2010, o índice ficou praticamente o mesmo: 69,3%. Os dados mostram, também, que homens e mulheres tendem cada vez mais a se unir a pessoas do mesmo nível educacional.

Uniões consensuais crescem no RN

No Rio Grande do Norte, entre 2000 e 2010, o percentual de uniões consensuais, ou não oficiais  subiu de 26,5% para 43,87%. O estado possui o 4º maior percentual de união consensual do Nordeste e encontra-se a cima da média brasileira. De acordo com o analista demográfico do IBGE, Maicon Novaes, o aumento dos casamentos não oficiais se deve a uma mudança de cultura na sociedade brasileira. "Hoje, fica muito mais barato para um casal apenas sair da casa dos seus pais e ir morar juntos. Sem contar que, após cinco anos de relacionamento comprovado, é possível ter os mesmos direitos que um casamento oficial, em caso de separação e assistência aos filhos", considerou Maicon.

Segundo ele, o aumento das uniões consensuais se dá principalmente nas regiões Norte e Nordeste do país. O Rio Grande do Norte conta com 43,87% da população vivendo esse tipo de união, bem acima da média nacional que é de 36,4%. "As classes com rendas entre 1 a 2 salários mínimos adotam mais esse tipo de procedimento. Logo, a união consensual está diretamente ligada a camada de baixa instrução do estado", afirmou.

Outro ponto interessante para a nova construção familiar é o aumento de uniões homoafetivas no Nordeste. Com a abertura dessa nova frente de pesquisa no Censo 2010, foi possível observar que o Rio Grande do Norte possui o 4º maior índice de casas homossexuais do Nordeste, com 0,07%. Todavia, ocupa a 14º posição em nível de Brasil, ficando abaixo da média nacional que é de 0,1%. "É uma nova forma de configuração familiar. Essa parte também entra no ranking de uniões consensuais. Os casais estão menos preocupados em oficializar a relação", disse.

O Rio Grande do Norte detém o índice de fecundidade por mulher de 2,15 filhos e ocupa a 5º posição entre os estados da região Nordeste. De acordo com Novaes, a esses fatores estão associados alguns condicionantes que influenciam diretamente as atuais taxas de fecundidade: rendimentos, nível de instrução e raça fazem parte do rol dos poréns. Segundo a pesquisa, as mulheres que declaram possuir rendimentos entre meio e um salário mínimo apresentaram maior taxa de fecundidade, 2,60 filhos. As que declararam receber mais de cinco salários mínimos possuem uma taxa de fecundidade mais baixa: 1,4.

Pescadora cria oito filhos numa casa de três cômodos

Para a Organização das Nações Unidas, um domicílio adequado é aquele que possui até duas pessoas por dormitório, rede geral de abastecimento de água, fossa séptica ou saneamento básico, bem como a coleta de lixo regular. Bem diferente é a realidade dos moradores  do bairro dos Guarapes, na Zona Oeste de Natal. A pescadora, dona de casa e mãe de oito filhos Edmilza Coelho estudou apenas até o 4º ano do ensino fundamental. De dois casamentos nasceram oito filhos. E todos eles moram com ela numa casa de apenas três cômodos. Uma cozinha, um pequeno banheiro e uma sala que serve de dormitório, são suficientes para manter toda família abrigada.

"Aqui eu tenho água encanada e energia elétrica. Tenho minha geladeira, meu freezer para manter os pescados congelados, minha televisão de 29 polegadas. Não dá para consumir muita coisa, mas conseguimos sobreviver com o essencial", disse a dona de casa.

As dificuldades financeiras são supridas com sopão da comunidade, visto que a renda não é suficiente para cobrir as despesas do mês. "Não dá pra dizer quanto ganho. É muito incerto e depende da maré", explicou. No Rio Grande do Norte foi constatado, em 2010, que quase 20% dos domicílios se encontravam com a densidade de pessoas por cômodo bem acima da média aceitável.

Mulheres mais instruídas têm menos filhos

Com relação ao grau de instrução, a situação é semelhante. Mulheres sem instrução escolar ou que possuem até o ensino fundamental, a taxa de fecundidade calculada no Estado foi de 2,98. Já para as que têm ensino superior incompleto e completo, o valor da taxa caiu para 1,27. A TRIBUNA DO NORTE conversou com algumas mulheres em situações diferentes e modos distintos de vida. Erivânia Lima, de 29 anos, é assistente administrativa de uma empresa da capital potiguar. Casada há nove anos, a jovem ainda não teve filhos. "Não planejamos ter filhos agora. Nem queremos. Queremos primeiramente nos estabilizar e orientar as nossas vidas. Depois, daqui a uns anos, nós pensamos nisso. Acredito que ainda está cedo", afirmou, sorrindo, a assistente administrativa. Para ela, a prioridade é concluir o curso de gestão em recursos humanos na universidade e pagar a casa própria e o carro recém-adquiridos.

Já Lidiane Lopes da Silva, de 28 anos, é casada há 10 anos. Com filhos não planejados desde o primeiro ano de casamento, a assistente em recursos humanos deixou os seus planos para mais tarde. "Hoje eu concilio a vida e o futuro dos meus filhos com o meu crescimento profissional. Nada contra quem espera se estabilizar primeiro. Mas acredito que vale a pena o esforço. A companhia dos filhos e a responsabilidade de tê-los sob a sua guarda soa como algo difícil, mas não é impossível", assegurou.

Das 812.126 famílias do RN,  15,9% eram formadas, na  maioria, por casais sem filhos, devido a maior participação as mulheres no mercado de trabalho.

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